Procurando motivação para terminar o último mês de 2018? Talvez o professor que ensina a ser feliz, Tal Ben-Shahar, possa ajudar.
O especialista em psicologia positiva ficou famoso por sua aula na Universidade de Harvard para os estudantes de graduação que ensinava através de estudos científicos a melhorar seu bem-estar. Ele é psicólogo, PhD em comportamento organizacional por Harvard e escritor de cinco livros sobre a ciência da felicidade.
Em entrevista para EXAME – VOCÊ S/A em São Paulo, na quinta-feira, 6, o professor demonstrou preocupação sobre a felicidade dos brasileiros. Segundo ele, a população do país, que historicamente sempre esteve entre os mais felizes do mundo, passa por momento de queda do nível de seu satisfação com a vida.
Ele aponta que o tempo gasto nas redes sociais tem mudado um hábito importante que influencia a felicidade. Em um ano repleto de incertezas, com as eleições e crise econômica, ele deu conselhos de pequenas mudanças no cotidiano e na maneira de pensar que podem ser benéficas para a satisfação individual.
“O equívoco de muitas pessoas é a crença de que as coisas fora de seu controle são as mais importantes para a felicidade”, diz ele.
O professor admite que adora vir ao Brasil pela energia que sente nas pessoas aqui. Neste fim de semana, ele participa do evento POEX – Positive Experience, organizado pela SBCoaching (Sociedade Brasileira de Coaching), em São Paulo, e conta que está prestes a ampliar sua relação com o Brasil.
Ele, que além de professor de Harvard é fundador da Happiness Studies Academ, passou a oferecer seu curso no mundo todo. No próximo ano, pela primeira vez, ele terá uma versão adaptada ao público brasileiro em parceria com a SBCoaching.
Com conteúdo traduzido para o português e aulas online ao vivo com Tal Ben-Shahar, o curso começa em março e custa a partir de 1.900 dólares. Não há limite de vagas e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail formacoesprofissionais@sbcoaching.com.br.
Em entrevista, o professor falou um pouco mais sobre o curso, as razões para os brasileiros estarem mais infelizes, e indicou o que fazer em 2019 para ganhar motivação e mais:
EXAME: Como seu curso será adaptado para o Brasil?
Tal Ben-Shahar: primeiro, a principal adaptação vai ser a língua. Tudo será traduzido para o português, então o inglês não será um pré-requisito para o curso, o que é ótimo. Além disso, o curso é construído de forma a ser personalizado. Nós temos aulas gravadas, que terão legendas, mas também teremos webinars. Neles, os participantes poderão fazer perguntas, que serão relacionadas às suas vidas. E os exercícios do curso pedem que você olhe para dentro de si.
Não sei se isso funciona no português, mas, em inglês, nós podemos fazer uma pesquisa (research) e no curso fazemos uma “me-search“, pedindo por uma busca interna.
De qualquer forma, a ideia principal do curso é fazer uma auto reflexão, olhar onde você está agora e aonde quer chegar. Então, alguns participantes vão chegar muito felizes e a questão será como eles podem se tornar mais felizes. E alguns chegam ao curso talvez em um momento difícil de suas vidas. E a questão será: como posso me ajudar a ser mais feliz?
Assim, não importa onde você está em termos de felicidade ou de onde você é, esse curso será personalizado.
EXAME: Como você vê o nível de felicidade no Brasil?
Tal Ben-Shahar: eu amo vir ao Brasil. No minuto em que chego aqui, eu sinto a energia, o calor e a gentileza das pessoas. E, historicamente, olhando as pesquisas, o Brasil está entre os países mais felizes do mundo. No entanto, nos últimos anos, houve uma queda nos níveis de felicidade aqui. A questão, claro, é o porquê. A resposta, com toda a probabilidade, é as mídias sociais. O Brasil é um dos países líderes no mundo em termos de presença nas redes sociais.
O que isso significa? A forma número um de prever a felicidade é pelo tempo de qualidade que passamos com as pessoas com quem nos importamos e que se importam conosco. Em outras palavras, relacionamentos, relacionamentos muito fortes. E o Brasil é muito forte nisso nas Américas. Porém, isso significa estar com as pessoas presencialmente e não virtualmente. Mil amigos nas redes sociais não são substitutos para isso, para a interação cara a cara com seu melhor amigo, com sua família.
No Brasil, mais pessoas estão abrindo mão desse tempo para ficar em frente à tela. Então, os níveis de felicidade têm caído no Brasil. É lamentável, mas reversível. Nós podemos fazer algo sobre isso. E quando digo “nós”, falo em nós adultos temos que fazer algo e também ajudar as nossas crianças a mudar isso. Se você der uma tela para uma criança, ela pode ficar 7h olhando para ela. E precisamos limitar esse tempo.
EXAME: Com as eleições e a crise econômica, esse ano foi estressante para muitos brasileiros. Como lidar com as incertezas para o próximo ano?
Tal Ben-Shahar: é muito difícil para o indivíduo mudar a sociedade. Assim, existem certas coisas que estão fora do nosso controle. Nem sempre podemos ter o nosso candidato favorito, podemos votar nele, mas não significa que ele será eleito. Na situação econômica, nós podemos trabalhar duro e fazer nosso melhor, mas a macroeconomia está fora do nosso controle.
O que temos que nos perguntar é: o que está sob nosso controle? E temos que focar isso.
Então, por exemplo, enquanto não posso mudar a situação da economia no meu país ou determinar quem será o próximo presidente, o que posso fazer é todas as noites, antes de dormir, repensar o meu dia e fazer uma lista das coisas pelas quais sou grato. Que coisas me fizeram feliz hoje? Uma boa refeição? A quem sou grato? À minha família? A Deus? Ao meu melhor amigo?
Uma vez que focamos isso, muda nossa perspectiva e muda nossa experiência com a vida. Por que nem sempre são as circunstâncias objetivas que determinam nossa felicidade, com frequência é a interpretação subjetiva que temos que importa tanto.
Um outro exemplo, se nos exercitamos com frequência, isso pode nos ajudar a manter um nível mais alto de bem estar, ou se passamos tempo com quem importa para nós. Isso contribui para nossa felicidade. Existem coisas que podemos controlar e coisas que não podemos.
O equívoco de muitas pessoas é a crença de que as coisas fora de seu controle são as mais importantes para a felicidade. E elas geralmente, não sempre, mas geralmente, não são.
Existem algumas circunstâncias, como se você mora em um país onde há guerra. Se o Brasil fosse a Síria. Se as mulheres brasileiras vivessem em constante opressão, como acontece em diversas partes do mundo. É claro que isso afetaria sua felicidade e não estaria sob seu controle.
Para a maioria de nós vivendo em países livres, temos mais controle sobre nossa felicidade do que pensamos.
Fonte: EXAME